Desde a Antiguidade até o final do século XVII, a
mulher era considerada imperfeita por natureza. O "modelo do sexo
único", descrito minuciosamente por Thomas Laqueur e dominante até a
Revolução Francesa, situava a mulher num degrau abaixo do homem na hierarquia
social. Mulheres ou "homens invertidos", ontologicamente
inexistentes, impotentes como as crianças ou escravos, iniciaram sua luta por
reconhecimento paralelamente aos esforços dos conservadores para justificar sua
exclusão dos primórdios da cidadania moderna ocidental, porque era
politicamente necessário legitimar como natural o domínio do homem sobre a
mulher. A construção do indivíduo racional pela teoria liberal pretendeu
excluir a mulher da sociedade civil em formação, enfatizando a dicotomia entre
os sexos e a separação entre as esferas pública e privada. Em contrapartida,
deu início ao discurso feminista da diferença, inaugurando uma história de
resistências repleta de questões, ambivalências, tensões e desdobramentos.
A luta inicial das mulheres pela igualdade de
direitos nasce pela afirmação das diferenças dando início a uma ambivalência
(igualdade versus diferença) que acompanha toda a trajetória do(s)
feminismo(s) e fundamenta a idéia de identidade do sujeito feminino. O direito
de votar foi uma das primeiras reivindicações das feministas denominadas
sufragistas que, embora excluídas da esfera pública sob domínio masculino,
buscavam participar desta por meio do voto. Alegavam, principalmente, que na
condição de mães e educadoras daqueles que integravam as arenas decisórias
teriam, portanto, o direito de votar. A Nova Zelândia foi o primeiro país a
conceder o direito ao sufrágio feminino em 1893, portanto, final do século XIX.
O SÉCULO XX é conceitualmente marcado por
três correntes feministas fundamentais, fruto de questionamentos decorrentes da
diversidade intra-sexo. A primeira, nos anos 1960, teve como reivindicação
principal uma distribuição mais igualitária do poder por meio da idéia de
igualdade de oportunidades e de condições para ambos os sexos. Denominado
"Feminismo Igualitário", "Liberal" ou
"Universalista" tem como princípio o pensamento liberal em que os
instrumentos são a educação, o trabalho e a política para uma ação
transformadora. A segunda corrente, o "Feminismo Radical", faz uma
crítica à sociedade patriarcal e ao liberalismo e impera nos anos 1970.
A socióloga Francine Decarries esclarece que o uso
da palavra "radical", cujo significado é aquilo que busca as
"raízes", pretende abordar as desigualdades geradas nas sociedades de
cunho liberal. O feminismo radical pode ser subdividido em quatro tendências, a
saber: Feminismo "Materialista", "Socialista", "da
Especificidade ou Autonomista" e "Lesbiano". A primeira faz uma
oposição clara à "classe dos homens" como opressores; na segunda, há
vínculo direto entre o capitalismo e o sistema patriarcal; a terceira se volta
para a questão das mulheres na família e no trabalho doméstico e, por fim, o
Feminismo Lesbiano encara o modelo heterossexual como opressor e tem na
homossexualidade feminina uma opção política. As polêmicas, aproximações e
distanciamentos entre os discursos dos feminismos emergentes evidenciaram a
complexidade das relações de poder, a diversidade das experiências femininas e
a consciência da centralidade do conceito de patriarcado nas lutas e pesquisas
empreendidas no âmbito do(s) gênero(s). A socióloga Sylvia Walby defende que,
além de ser um conceito descritivo e útil para a análise da dominação
masculina, o "patriarcado" é um sistema que se articula com o
capitalismo, porém, é autônomo. "É um sistema de estruturas e práticas
sociais nas quais os homens dominam, oprimem e exploram as mulheres",
define.
Nos anos 1980, as mulheres reivindicaram uma
revalorização da experiência feminina ligada à maternidade e aspectos
biológicos característicos das mulheres - constituindo, assim, uma terceira
corrente chamada Feminismo da "Feminitude", que enfatiza, novamente,
a diferença entre os sexos.
Existe no mundo contemporâneo a demanda por uma
noção de cidadania mais abrangente, onde a diversidade cultural é um mote
contínuo.
Referência:
CARMEM SÍLVIA MORETZSOHN ROCHA
é socióloga, mestranda em Ciências Sociais
e integrante do Núcleo de Estudos sobre
Desigualdade Contemporânea em Relações de
Gênero (NUDERG) pela Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (UERJ)
é socióloga, mestranda em Ciências Sociais
e integrante do Núcleo de Estudos sobre
Desigualdade Contemporânea em Relações de
Gênero (NUDERG) pela Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (UERJ)
Link:
http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/22/artigo127779-1.asp acesso em 03/03/2013 às 19:41 hs
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